Jornada descentralizada e em movimento

A Jornada Nacional de Literatura é realizada a cada dois anos em Passo Fundo, Capital Nacional da Literatura. A última edição foi em 2017. Para fazer com que essa movimentação cultural fosse permanente, foi criado, em 2018, o projeto Jornada em Movimento, pelas Jornadas Literárias da Universidade de Passo Fundo (UPF). Com uma ação intitulada “Caminhos e estações: leitores e autores”, a programação deste ano já começou. Nesta segunda-feira, 2 de julho, o município de Lagoa Vermelha, no norte do Rio Grande do Sul, recebeu o primeiro Encontro com Escritores. Crianças e adolescentes de escolas públicas municipais encontraram com os autores César Obeid, Antonio Schimeneck e Anna Lee. Os próximos encontros serão realizados nos dias 3 e 4 de julho, em Marau e em Passo Fundo, respectivamente. 

César Obeid, Anna Lee e Antonio Schimeneck

Em 2018, o projeto está sendo desenvolvido em Passo Fundo e nos municípios de Marau e Lagoa Vermelha, em três momentos que incluem a formação dos agentes de leitura, por meio do curso de extensão “A leitura multiplicada: a formação do agente de leitura”, as Estações de Leitura e o encontro com os escritores. 

Para uma das coordenadoras das Jornadas Literárias, Fabiane Verardi Burlamaque, a ideia é descentralizar a Jornada e ir até o leitor. A essência das Jornadas é a formação de leitores. Além de atingir os alunos do ensino fundamental, a programação também é voltada para as crianças da educação infantil, com eventos que contam com a parceria de editoras e prefeituras. “A concepção da Jornada como uma movimentação cultural permanente se reconfigura e amplia seu espectro de atuação a partir da Jornada em Movimento, que é uma ação em que, nos mesmos moldes da Jornada e da Jornadinha, há a preparação dos leitores, por meio das leituras prévias das obras e pela eficiente mediação dos agentes de leitura. Também estamos trabalhando com as estações de leituras, que antecedem ao encontro com os autores, em que o protagonismo das crianças e professores se evidenciam, culminando com o encontro com os escritores”, destaca Fabiane.

Também prestigiaram a atividade o diretor do Campus UPF Lagoa Vermelha, Adriano Lourensi, e a secretária de Educação do município, Aline Fasoli. 

O encontro com os escritores

O Encontro com Escritores é oportunidade de os estudantes debaterem as obras trabalhadas dos escritores. A atividade em Lagoa Vermelha movimentou o Campus da UPF e reuniu 11 escolas e mais de 750 alunos. Os jovens leitores interagiram, debateram as obras e receberam autógrafos dos autores César Obeid, Antonio Schimeneck e Anna Lee. 

O autor Obeid, que é escritor, educador, contador de histórias, cozinheiro e poeta, é conhecido pela capacidade de interação com o público e pelo bom humor em suas apresentações. É autor de mais de 30 livros para jovens e crianças, e leva a literatura para vários cantos do Brasil. “Acredito que a literatura infantil está em um bom momento. Hoje, o jovem lê mais do que nós quando éramos jovens. Há uma preocupação das escolas em estimular a leitura. Mas uma lacuna grande que deve ser olhada com prioridade é a literatura na mídia, e a literatura dentro das casas. Uma casa muito rica tem uma televisão, mas talvez não tenha uma biblioteca. Uma casa muito pobre tem uma televisão e talvez não tenha uma biblioteca. Isso me chama atenção. A literatura não é ligada à questão social e econômica. É muito mais um hábito e um interesse cultural”, ressalta o escritor.

Já a escritora Anna Lee é mineira de Belo Horizonte, jornalista, escritora, roteirista e doutora em Estudos da Literatura pela PUC-Rio. Escreveu vários livros, entre eles, O Beijo da Morte, ganhador do Prêmio Jabuti 2004 — categoria Reportagem e Biografia —, que em breve ganhará nova edição, revista e atualizada. Trabalhou no jornal Folha de S.Paulo e na Editora Globo, entre outros. Atualmente, é roteirista na TV Globo. Para ela, todo escritor tem que ser um bom leitor. “Você não vai encontrar um escritor que não seja um bom leitor e um leitor intenso. Costumo dizer para os adolescentes que quando eu comecei a ler, criei um baú imaginário para colocar todas as minhas leituras. Aí um dia, as histórias transbordaram e eu escrevi minha própria história. Mas escrever é um trabalho braçal”, confessa a escritora.

O escritor Antônio Schimeneck é natural de Tupanciretã, centro-oeste do Rio Grande do Sul. Reside em Porto Alegre e trabalha na Ama Livros Distribuidora. É formado em Letras e tem quatro livros publicados para o público infantil e juvenil. Suas obras já receberam algumas distinções e atualmente é vice-presidente da Associação Gaúcha de Escritores. Uma das temáticas mais utilizadas pelo autor é o medo, assunto que também esteve presente em várias obras da última edição da Jornada de Literatura. “O grande mistério da vida é o além, o que acontece depois. A morte e o medo do além inspiraram muitas narrativas desde sempre. É uma temática muito produtiva na literatura e na arte”, comentou o escritor, que também enfatizou que é preciso incentivar mais a literatura brasileira. “Quem vai na livraria, encontrará material muito midiático, mas não a literatura real produzida no Brasil. Ela precisa ser mais lida e conhecida”, enfatizou o autor.

A professora de uma das escolas participantes, Cleonice Nunes Padilha, ressaltou a importância dessa movimentação literária na vida das crianças. “Eles estão trabalhando com o autor César Obeid. É importante a criança ter acesso à leitura e à literatura. Eles trabalharam o autor e agora estão empolgados em conhecê-lo”, disse a educadora.

Os leitores estavam entusiasmados. “Estou lendo um dos livros do Antonio Schimeneck. É muito legal conhecer alguém que cria histórias. Na escola, fizemos um desenho inspirado no livro ‘A verdade em preto e branco’. Nunca pensei que um dia iria conhecer ele”, declarou a aluna Verônica da Silva, de 9 anos. 

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César Obeid, Anna Lee e Antonio Schimeneck