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Humanização pela educação: qual a influência do professor neste processo?

15/10/2021

08:55

Por: Assessoria de Imprensa

Professora Dra. Marilise Brockstedt Lech

As mudanças culturais e tecnológicas presentes no século XXI trazem à tona uma reflexão sobre os novos caminhos a serem percorridos no processo da educação. Em meio a tantas transformações, surge a necessidade de promover uma educação mais humanizada, que desafia, principalmente, o professor a executar um trabalho que vai além de ensinar, requer educar a fim de contribuir para a formação de seres que valorizem a união, a empatia e o respeito ao próximo. Para responder alguns questionamentos sobre o assunto, convidamos a professora da Universidade de Passo Fundo (UPF), Dra. Marilise Brockstedt Lech, que lançou, recentemente, a obra “Humanização pela educação: a influência da pessoa do professor”.

- Em meio a tantas mudanças culturais, científicas e tecnológicas, qual a importância de uma educação humanizada nos dias de hoje?
A história da humanidade mostra o quanto as revoluções são necessárias para que hajam saltos no desenvolvimento humano. Passados os períodos da pré-história, o período clássico da Grécia e Roma antiga, a Idade Média, a Renascença - revolução das artes, a revoluções da ciência, da indústria e da tecnologia, faz-se urgente que a revolução da consciência humana se intensifique, caso contrário, tudo que se criou até aqui, pode voltar-se contra nós. As tecnologias podem nos ensinar, mas não são capazes de educar. Nos tornam sujeitos mais informados, mas não sujeitos mais humanos, no sentido de sentir-se integrado a uma comunidade humana que se solidariza com "seus outros".

- Existe alguma peça chave para o processo de humanização da educação?
A chave são as pessoas e as trocas que acontecem entre elas. Estas trocas acontecem por meio de um fio invisível que se forma na medida que existe uma boa comunicação, respeito e aceitação das diferenças, alegria pelo encontro e confiança no vir a ser de si e do/no outro.
Para sermos humanos, não basta nascermos com a mesma fisiologia do homo sapiens. Precisamos nos desenvolver na maneira de viver em uma comunidade humana. Assim, a educação é o processo de transformação que acontece a partir da convivência, que nos leva a nos reconhecermos, também, no outro. É esta "ecologia" que forma, em nós, a capacidade de justiça, empatia e amor. Para Maturana (2014) é o amor que cria os "fios invisíveis", pelos quais "desliza" a educação humana entre as pessoas.

- Quais os principais desafios enfrentados pelos professores para a transformação do método de educação nas instituições de ensino, desde os anos iniciais até o ensino superior?
Em tempos de alta tecnologia, conhecimentos prontos e de fácil acesso, muito se tem discutido sobre o papel dos professores e das instituições de ensino, nesta virada de milênio. Vivemos um momento de transição, no qual novos paradigmas começam a se definir com base em concepções mais integrativas, interdisciplinares e complexas - tecidas em rede, em contrapartida ao pensamento fragmentado e até mesmo descontextualizado que caracterizou o último século. Nesse sentido, não cabe mais a transmissão de conteúdos com ênfase na memorização sendo apresentados a estudantes enfileirados, debruçados sobre suas classes. O desafio é que os professores façam tudo aquilo que as máquinas não conseguem: dar sentido ao conhecimento, gerar emoção, ser exemplo de profissional comprometido, criar engajamento, etc. Ou, seja, a pessoa que ele é, conta tanto quanto os conhecimentos que ele tem. 

- Estamos vivendo a chamada era da informação, onde os processos mudam de uma forma veloz e novos recursos surgem para transformar o modo de fazer as coisas. Diante disso, qual o papel do professor?
Além de ser um provocador e de instigar a curiosidade e capacidade crítica dos estudantes, a fim de que eles sejam ativos nestes processos de mudança, ele precisa estar consciente do quanto os influencia a serem bons profissionais. Fazem isso pelo modelo que exercem, mesmo sem se dar conta. Em meu livro defendo a necessidade do professor perceber e comprometer-se com este seu papel, procurando ser uma pessoa e um profissional melhor, a cada dia. O processo educacional não ocorre apenas no nível do saber, mas como defende Delors (1999), ocorre também com base nos pilares do fazer, conviver e ser.

- Partindo do mesmo pensamento de estarmos vivendo em uma era digital, quais as vantagens da educação humanizada para os professores e os benefícios para os alunos, tanto a curto prazo quanto para as próximas gerações? E como vê os impactos desse processo para a sociedade?
A era digital chegou para facilitar a comunicação e ampliar a difusão de informações. Contudo, isso não significa que vai favorecer o desenvolvimento humano. O que temos em mãos só ganha sentido quando sabemos utilizar na direção do bem e do bem-estar das pessoas, conduzindo-as, como diz Cortella (2014) a um "Eu maior", que ultrapassa o individualismo e enxerga o mundo ao redor como uma extensão de si mesmo, a partir da empatia e da sinergia.

O livro “Humanização pela educação: a influência da pessoa do professor"
foi lançado recentemente pela professora