Ensino

A rotina na guerra

23/03/2023

13:38

Por: Assessoria de Imprensa

Fotos: Arquivo pessoal

Egressa do curso de Medicina da UPF compartilha experiência como voluntária em abrigos no conflito entre Rússia e Ucrânia

Foi logo quando saíram as primeiras notícias da guerra entre Rússia e Ucrânia, que a médica Mariana Mattioni teve vontade de ajudar de alguma forma as pessoas que sofriam com as consequências do confronto. Egressa do curso de Medicina da Universidade de Passo Fundo (UPF), Mariana já havia feito voluntariado com refugiados da guerra do Iraque e, quando viu o programa para a guerra na Ucrânia, encontrou ali uma oportunidade de poder contribuir. E foi assim que embarcou em mais uma missão para um nova experiência enriquecedora.

A médica se voluntariou para a missão por meio da VVolunteer, uma plataforma de ação social  e humanitária, por meio da qual já havia se voluntariado para atuar no Iraque. Mariana, que atualmente é médica rotineira intensivista das Unidades de Terapia Intensiva do Hospital Moinhos de Vento e Ernesto Dorneles, em Porto Alegre, aproveitou o período de férias para seguir trabalhando em uma situação completamente diferente do seu dia a dia no hospital. 

O dia a dia na missão
O objetivo da missão era oferecer suporte para coordenação e gestão de dois abrigos na fronteira da Polônia com a Ucrânia, nas cidades de Radymno e Przemysl, na semana em que o conflito completava um ano. Além disso, a equipe de 11 pessoas, formada por professores, advogados, jornalistas, economistas e três médicos, duas emergencistas e Mariana, intensivista, também prestava  orientações jurídicas na resposta de refugiados e migrantes para garantia de seus direitos; ajuda estrutural na organização de doações internacionais de alimentos, medicações e suprimentos hospitalares; preparo de guia de brincadeiras e atividades educativas para as crianças, além de um suporte psicológico e orientações médicas aos mais necessitados.

Mariana conta que embarcou sem saber exatamente o que iria fazer, uma vez que o cronograma poderia mudar de acordo com a demanda dos abrigos. “Nos abrigos, encontramos principalmente mulheres, crianças e idosos. Famílias separadas, mulheres em depressão, tentativas de suicídio, filhos sem seus pais que ficaram no país à disposição do governo. Há medo e angústia diante de um futuro incerto”, lembra. Segundo a médica, no período em que esteve lá, e pela data, houve um aumento do fluxo de migrantes e o grupo pode acompanhar a chegada desses refugiados no solo polonês e ver como é feito o encaminhamento até os abrigos. “Visitamos também a fronteira, onde vimos um fluxo contrário de voluntários homens indo para guerra”, completa. 

Como médica, Mariana ficou encarregada de organizar a farmácia de ambos os abrigos. “Encontramos ali muitas medicações vencidas e muitos materiais e medicações de uso hospitalar. Fizemos a divisão e encaminhamos o material para um hospital na Ucrânia”, explica, Além disso, a equipe também realizou uma triagem de sinais vitais e queixas comuns que puderam medicar com o que tinha na farmácia do abrigo. “Realizamos um atendimento emergencial de um idoso que precisou ser encaminhado para hospital, ele estava sem acompanhamento médico e sem suas medicações de uso contínuo há dez meses devido ao conflito. Para finalizar, elaboramos um guia e realizamos um treinamento de primeiros socorros para os coordenadores dos abrigos”, comenta. 

Experiência transformadora
Para a médica, foi uma experiência enriquecedora. “Além do suporte estratégico e técnico que cada profissional pode contribuir conforme sua área de atuação, também trabalhamos o lado emocional e afetivo, dando carinho, atenção e conforto, ouvindo suas angústias e necessidades. Mesmo sabendo que o fim da guerra ainda pode estar distante e há muitas falhas na resposta humanitária, esses pequenos gestos podem fazer a diferença na vida de alguém”, frisa. 

Formada pela UPF em 2010, Mariana fez Residência Clínica pelo Hospital de Caridade de Ijuí, Residência de Terapia Intensiva no Hospital Moinhos de Vento e mestrado em Ciências da Reabilitação na UFCSPA. E foi logo após concluir seu curso que começou a participar de ONGs. Na opinião dela, nossa personalidade vai sendo moldada ao longo dos anos, conforme nossas experiências e pessoas com as quais convivemos. “Os professores que tive e os colegas com os quais convivi na UPF com certeza influenciaram na minha formação não só profissional, mas também pessoal”, garante.