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  2. 28/04/2020
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A educação como prioridade

  • Ensino

Criado após o término de um fórum mundial realizado em Dakar, Senegal, no ano 2000, o Dia Mundial da Educação é lembrado sempre na data de 28 de abril como forma de conscientizar as pessoas sobre a importância de se educar. Área fundamental na construção de valores em uma sociedade, a educação segue enfrentando constantes desafios, e, neste momento de pandemia do novo Coronavírus (Covid-19), a situação não é diferente.

Conforme a diretora da Faculdade de Educação (Faed) da UPF, Dra. Adriana Dickel, a área da educação, no Brasil, tem questões históricas a enfrentar e tem enfrentado por vezes mais diligentemente do que em outras. “Um dos desafios que enfrentamos e que numa crise como a que vivemos se mostra em toda a sua crueldade é o do direito à educação de qualidade. Em uma sociedade desigual, com intensa concentração de renda, o acesso à escola, apesar de comum a todos, efetiva-se de modo extremamente desigual”, comenta.

Dados produzidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) e pelo Indicador de Alfabetismo Funcional (INAF) ajudam a compor esse cenário. “Atualmente, temos cerca de 1,5 milhão de crianças e jovens, entre 4 e 17 anos, fora da escola. Isso pode parecer um problema pequeno; no entanto, o percentual de 96% de crianças em idade estudantil no Brasil não se altera desde 1996. E o número de analfabetos também não cede. Já há alguns anos, os índices ficam, segundo o INAF, entre 6% e 8% da população. O problema aumenta se considerarmos que 22% da população encontra-se na condição de alfabetizado em nível rudimentar. Isso significa que 30% da população brasileira, acima de 15 anos de idade, encontra-se na condição de analfabeto funcional, ou seja, não apresenta conhecimentos mínimos sobre a leitura e a escrita que lhes permita usá-las para solucionar problemas do dia-a-dia. Agrava saber que 13% das pessoas que chegam ao Ensino Médio ou o concluem podem ser considerados analfabetos funcionais e somente um terço de quem conclui o ensino superior pode ser considerado proficiente em leitura, isto é, maneja com autonomia essa que é a principal ferramenta para continuar aprendendo por toda a vida”, conta Adriana.

Trabalho conjunto entre estudantes, família e escola
Diante da quarentena e das estatísticas apresentadas, como é possível ter uma educação de qualidade nas modalidades on-line ou remota? Para a professora Adriana, numa situação de pandemia, que exige isolamento social, essa tragédia se impõe visivelmente. “Quem pode ter aulas remotas com aproveitamento? Quais são as crianças que têm professores ou tutores disponíveis em períodos definidos do dia? Quem tem uma família cujos membros têm vivência de escola a ponto de compreender as propostas que chegam das mãos de professores? Quem tem um computador, uma impressora e uma linha de acesso à internet de qualidade? A quem foi concedido o direito de atuar com autonomia e criatividade diante de tarefas escolares, o que viabiliza, em muito, uma relação de aprendizagem com os materiais que lhes estão disponíveis? As respostas a essas questões - algo que pode ser dado por quaisquer pessoas com o mínimo de leitura de realidade - são respostas à questão que nos é feita. A desigualdade educacional se aprofunda intensamente quando se trata de processos pedagógicos mediados por tecnologias da informação e por adultos em condições de oferecer mediadores de qualidade aos pequenos”, relata.

De acordo com a docente, o grau de independência que uma criança tem para utilizar-se com autonomia de ferramentas virtuais para estudar depende fundamentalmente da vivência que ela tem com esses recursos. “Se em casa ou na escola essa prática é fomentada e utilizada, é bem provável que a criança use desse conhecimento para resolver tarefas que vêm da escola. Caso contrário, terá de ser acompanhada por adultos ou pessoas mais experientes até que essa aprendizagem aconteça. Como nossas pesquisas evidenciam, as ferramentas computacionais são muitas vezes utilizadas nas escolas como mais um recurso para a realização de tarefas sob a tutela do professor, o que significa somente a mudança de suporte para uma atividade tradicional. A criança precisa de algo mais para enfrentar as aulas remotas. Ela precisa de autonomia, criatividade e iniciativa, valores que, desafortunadamente, são sonegados de muitas crianças e jovens nas nossas escolas. A quem tem esses recursos, é fundamental que se aproveite ao máximo o encontro que está ocorrendo entre pais ou responsáveis, a criança e as atividades escolares, as quais perfazem parte importante do currículo escolar. Já nas famílias em que a internet ainda não está disponível ou o acesso a ela é precário, cabe à escola prover recursos para não afastar as crianças da lógica produtiva da escola, pois essa criança precisa desse estímulo para continuar seu processo de escolarização. Cabe-lhe encontrar meios de comunicação com a família e a criança, dispondo-lhe ferramentas para que possam agir em conjunto para garantir essa proximidade”, menciona.

Dia para não ser esquecido
Os diversos desafios encarados na educação fazem do dia 28 de abril uma data a ser lembrada. “Marcar o Dia Mundial da Educação é lembrar que a educação escolar nunca foi prioridade no Brasil. No entanto, tudo o que acontece ali carrega consigo os alicerces da sociedade, da estrutura social, econômica, política e cultural. Não reconhecer isso é não apostar no desenvolvimento sustentável do país, é delegar ao futuro a incumbência de salvar o que o passado irresponsavelmente deixou de fazer”, finaliza Adriana.