O sonho de formar leitores

“Um sonho realizado”. O sentimento da secretária de Educação de Marau Fernanda Brandoli era o mesmo do das cerca de 2,5 mil crianças e adolescentes que receberam, nesta terça-feira, dia 3 de julho, os escritores César Obeid, Antonio Schimeneck e Anna Lee, durante mais uma ação do projeto “Jornada em Movimento” das Jornadas Literárias da Universidade de Passo Fundo (UPF). O segundo Encontro com Escritores deste ano ocorreu na Casa de Cultura de Marau, com a presença de alunos de 16 escolas do município. Na quarta-feira, dia 4, o encontro será em Passo Fundo. 

Intitulada “Caminhos e estações: leitores e autores”, a ação tem como foco a formação permanente de leitores. Divididas em três momentos, que incluem a formação dos agentes de leitura, por meio do curso de extensão “A leitura multiplicada: a formação do agente de leitura”, as Estações de Leitura e o encontro com os escritores, as ações estão sendo realizadas, além de Marau, em Passo Fundo e Lagoa Vermelha. “Nós pretendemos, com esse projeto, fazer da leitura uma coisa que faz parte da vida das pessoas. Que não necessariamente se articula em função de um evento. Nosso interesse é deslocar os autores para que eles possam encontrar seus leitores em múltiplos espaços para, dessa forma, estabelecer uma relação contínua entre produção literária, recepção literária, entre literatura e leitores em formação”, explicou um dos coordenadores das Jornadas Literárias, professor Miguel Rettenmaier. 

Mobilização e realização
Em Marau, os escritores foram recebidos com uma exposição dos trabalhos criados pelos alunos a partir das obras lidas e que foram apresentados na Estação de Leitura que ocorreu no sábado, 30 de junho. De acordo com a secretária de Educação, os educadores e os alunos do município sempre participaram das Jornadas Literárias e quando houve a possibilidade de trazer o projeto a Marau, ela viu como uma oportunidade de atingir um número ainda maior de alunos. “Hoje, nós temos cinco mil alunos na nossa rede e nesse início do projeto já conseguimos atingir um grande número. Acreditamos que a longo prazo vamos conseguir atingir a totalidade dos nossos alunos. Sem dúvida, ter os autores presentes, poder interagir com as obras que foram adquiridas para as escolas como forma também de renovar o acervo das bibliotecas, é uma troca muito grande para nossos alunos e nossos professores”, destacou Fernanda. 

Para a secretária, o projeto em Marau se resume em duas palavras: mobilização e realização. “Conseguimos mobilizar todas as pessoas envolvidas e realizar um grande evento, com todo significado que ele tem. Nós estamos muito felizes e posso dizer que é um sonho. Um sonho realizado, um sonho que se inicia e que certamente atingirá uma grande parte da nossa população e que começa pelos nossos alunos que, com certeza, é quem vai levar adiante todo esse projeto. É o início de um grande passo em prol de uma comunidade, de uma sociedade marauense leitora”, completou. 

Parceria
Além da parceria com as prefeituras de Marau, Lagoa Vermelha e Passo Fundo, as editoras Besourobox, Moderna e Nova Fronteira, o projeto Jornada em Movimento também conta com o apoio cultural do Sesc. “Atualmente, o Sesc Passo Fundo trabalha com quatro projetos literários, o Sesc Literatura, Arte da Palavra, a Biblioteca do Sesc e a abrangência que a gente faz em torno de 36 cidades ao longo do ano e a gente sempre está envolvido com a UPF em projetos culturais e porque não estarmos envolvidos com a Jornada em Movimento”, contou Cássio Borges, responsável pelos projetos literários do Sesc e que tem acompanhado os encontros animando as crianças e fazendo a apresentação dos escritores. 

Encontros e histórias
Recebidos com olhos curiosos e cheios de expectativas, os autores César Obeid, Antonio Schimeneck e Anna Lee se revezaram para encontrar cada um com seu público e falar sobre suas obras, responder às perguntas e dar autógrafos aos pequenos leitores. Com mais de 30 livros publicados, Obeid brincou, cantou, rimou e encantou as crianças com seu jeito animado de contar histórias. Entre uma história e outra, contou sobre sua relação com a literatura e destacou sua paixão pelos livros. “Às vezes, é mais fácil ligar uma televisão do que ler um livro, mas nem sempre o que é mais fácil é melhor. Quando a gente lê um livro, a gente encontra uma história que não é só para a gente, mas tem uma história para contar”, disse. 

Com as luzes apagadas e o suspense no ar, o escritor Antônio Schimeneck contou a história de Maria Angula, que, segundo ele, foi a primeira a lhe dar medo, principal temática dos seus livros. Com quatro obras publicadas, Schimeneck também lembrou do início da sua relação com os livros. “O livro aconteceu na minha vida de uma maneira muito interessante. Onde eu cresci, não tinha livrarias, nunca teve uma feira do livro e não me lembro de ter biblioteca pública. Eu não lembro de, em todo o período escolar, a gente ter lido um livro juntos ou ter feito um trabalho sobre um livro como vocês fizeram. Quando eu mudei de escola, eu descobri a biblioteca e fiquei duas horas mergulhado em um livro e aquilo mudou a minha vida”, lembrou o autor que encerrou sua fala desejando que desse encontro saiam muitos escritores e escritoras. “Gente que gosta de livro”, completou. 

Falando com o público juvenil, Anna Lee dispensou a formalidade e sentou no palco, onde, segundo ela, se sente mais próxima do público. A escritora também contou sobre seus primeiros passos no mundo das palavras e ao ser questionada sobre suas inspirações contou que o segredo é ler muito e observar a vida. “Acho que todo escritor é um observador da vida. É o que eu faço. Esse momento que eu estou vivendo aqui com vocês, sem dúvida, é o melhor momento do meu processo de escrita, é na hora que eu estou diante de vocês que vocês botam o ponto final no meu livro com a leitura de vocês e eu estou aqui absorvendo tudo. Por isso eu gosto de sentar perto de vocês, porque nessas observações que eu vou pegando características para a construção dos meus personagens”, finalizou. 

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