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UPF sedia fundação do Núcleo de Apoio à Vida de Passo Fundo

19/06/2018

13:23

Por: Jéssica França

Fotos: Jéssica França

Entidade é mantenedora do Centro de Valorização da Vida, associação que trabalha auxiliando na prevenção ao suicídio

A vida como bem mais precioso, essa é a visão dos voluntários do Centro de Valorização da Vida (CVV), e que iniciaram um movimento há mais de 50 anos no Brasil e deram os primeiros passos para criação do Centro em Passo Fundo. A Universidade de Passo Fundo (UPF) sediou, na noite de segunda-feira, 18 de junho, a reunião de fundação do Núcleo de Apoio à Vida de Passo Fundo (Navipaf), que é a mantenedora do CVV. O evento ocorreu no auditório da Faculdade de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis (Feac) e integrou as atividades de comemoração dos 40 anos do curso de Psicologia da UPF. 

Na oportunidade, a presidente do Navipaf, professora Dra. Ciomara Benincá, explicou que a criação do CVV em Passo Fundo é importante para a atuação efetiva na prevenção ao suicídio. “É um sonho antigo, dou aula na UPF há 30 anos trabalhando esse assunto com alunos e vejo o grande número de casos de suicídio na nossa região. O Rio Grande do Sul é recordista em número de suicídios, a região de Passo Fundo tem números muito altos. Há algum tempo, estamos analisando a possibilidade de efetivar um serviço de prevenção aqui. No ano passado, houve a aprovação da lei municipal do Setembro Amarelo, instituindo, assim como no resto do mundo, o 10 de setembro como o Dia Municipal de Prevenção do Suicídio. Mas é preciso pensar nessa questão o ano inteiro e essa é a razão pela qual começamos a articular a vinda do CVV para cá”, explicou. 

No mesmo dia, no período da tarde, uma comitiva com o grupo foi recebida pelo reitor da UPF, José Carlos Carles de Souza, apresentando a proposta da criação do Centro na cidade. 

Movimento em defesa da vida
Fundado em São Paulo, em 1962, o CVV é uma associação civil sem fins lucrativos, filantrópica, reconhecida como de Utilidade Pública Federal, desde 1973. A entidade presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo e anonimato.

O coordenador nacional do CVV, João Regis da Silva, apresentou o Centro, relatando que existem atualmente 2.500 voluntários e 90 postos em todo o Brasil que atendem a uma média de sete mil pessoas por dia. “Encerramos 2017 com 2 milhões e 200 mil pessoas atendidas pelo CVV. É pouco, mas são mais de dois milhões que buscaram apoio emocional e que tiveram um voluntário disponível para conversar. O índice de suicídio no Brasil está muito acima da média mundial. A Organização Mundial de Saúde (OMS) fala que até cinco suicídios para cada 100 mil habitantes é aceitável, no Brasil, estávamos até poucos dias em 8.9 e o sul é campeão. Lamentamos, mas o Rio Grande do Sul é capital do suicídio. Por isso estamos fazendo uma campanha de implantação dos Centros”, explicou.

Ainda conforme Silva, o CVV também recebe cerca de 1.500 e-mails diários de depoimento de pessoas, e conta com uma equipe que responde a essas correspondências em 24 horas. No estado, existem CVVs nas cidades de Porto Alegre, Novo Hamburgo, Caxias do Sul, Santa Maria, Três de Maio, Uruguaiana, Garibaldi, e, em fase de implantação, nos municípios de Ijuí, Tapejara e Pelotas. “Ficamos felizes porque o CVV presta esse serviço, mas, ao mesmo tempo triste, porque tem tanta gente querendo ser atendida e não temos voluntários suficientes para atender à demanda”, disse. 

Passo Fundo 
Conforme a professora Ciomara, Passo Fundo tem alto índices de suicídio. “Uma estatística de 2013 revelou que, naquela época, as taxas nacionais eram de 5 suicídios para cada 100 mil habitantes, Passo Fundo tinha uma taxa de 11,8. O Rio Grande do Sul está sempre no topo das estatísticas: dos 20 municípios brasileiros que têm os mais altos índices, 11 são gaúchos, então, isso é muito preocupante. Por outro lado, temos um trabalho como o do CVV, que já passou de 3 milhões de atendimentos somente neste ano, então, é muita gente precisando de ajuda”, disse.

O grupo de voluntários que atua na criação do CVV na cidade explica que toda a ajuda é bem-vinda e que o Centro, para entrar em funcionamento, necessita de uma sede. “Não temos uma sede, precisamos de uma sala com internet, por isso estamos buscando apoio junto a instituições e ao poder público, porque isso é básico para funcionarmos”, informou. 

Trabalho feito com amor
Para que o serviço funcione, é fundamental a atuação dos voluntários. Conforme Ciomara, qualquer pessoa acima de 18 anos pode ser voluntária. A preparação consiste em um curso preparatório que deverá ocorrer no mês de agosto em Passo Fundo. “A capacitação ocorrerá em cinco finais de semana, depois disso, o voluntário passa por um estágio probatório de cerca de 180 dias e, após, recebe o certificado de voluntário do CVV. Não precisa ser formado em nenhuma área específica, basta querer fazer o trabalho com amor e dedicar 4h30min da sua semana a uma causa nobre como essa”, destacou.

Ligue 188
Os contatos com o CVV são feitos pelo telefone 188. Conforme dados da OMS, ocorre um suicídio no mundo a cada 40 segundos, e o mais alarmante é o fato de que 9 a cada 10 suicídios poderiam ser evitados. “Estudos apontam que toda a ideia suicida tem 90% de oportunidade de ser evitada, porque o que eles querem matar é o sofrimento e a dor e muitas vezes essas pessoas estão tão perdidas que não encontram um rumo. O CVV treina os voluntários para ajudar a encontrar esse rumo, sem aconselhar, julgar, dizer o que é certo ou errado, sem dar a opinião do próprio voluntário, porque o que é certo para mim poderá não ser para a outra pessoa. Nos disponibilizamos a ouvir com amor somente”, explicou Silva. 

Mais informações sobre o CVV em Passo Fundo podem ser obtidas pelo telefone (54) 9-9916-7647 ou pelo e-mail comitecvvpf@gmail.com.