Imagens que fazem História

O ato de fotografar pode ser descrito como pintar com a luz, num mundo onde todos podem ser artistas, cada um com a sua maneira e prática de visualização da foto antes mesmo de ela ser batida, mesmo sem comportar os recursos necessários – máquina poderosa – para obtê-la. Uma composição que surge conforme a inspiração presente no instante da captura, podendo registrar momentos importantes, lembranças que podem ficar vivas. Arte que se difere de tantas outras por facilitar a vontade daquele que a quer.

Contextualizando essa forma de trabalho já executada nas décadas passadas, percebe-se um entrelace com a disciplina de História, pois, o ato de paralisar o tempo e espaço se resume em ações vivenciadas pelo homem. A História vista e pautada tem o objetivo de estudar as origens no intuito de compreender significativamente o tempo presente, tornando-se indispensável que se faça um estudo dos acontecimentos ocorridos, que pode consistir-se em pesquisa e análise por meio de imagens.

A partir dos registros dos primeiros artistas fotográficos anônimos de Passo Fundo, é possível encontrar no Arquivo Histórico Regional uma mediação dessa relação entre as obras e a cidade. Por meio da apresentação de uma oficina com antigas imagens do município, obtém-se uma visualização de mudanças, rupturas ou permanências: patrimônios que permanecem por tombamento ou exercendo outra forma de atividade, e patrimônios que deixaram de existir. Mostra-se através dessas imagens o processo histórico.

Nesse trabalho, se consegue apresentar para a comunidade algo que proporciona uma fácil interpretação da construção de Passo Fundo sem a necessidade da pesquisa, utilizando-se de um acervo fotográfico sobre um tempo “materializado” na história. Imagens que fazem as pessoas voltarem ao passado e ver outra cidade, podendo esbarrar com naturalidade na formação das ruas, ou na arquitetura colonial portuguesa, e saber sobre a função que aquele local exercia na época. A oferta dessa didática sobre história local traz a possibilidade da socialização de informação e conhecimento, para um público amplo, consistindo numa das formas de atuação do Arquivo Histórico.

A fotografia é um mecanismo palpável e de absorção imediata do conteúdo por ser um meio visível mais facilmente apreendido. Nesta oficina está presente a aproximação das pessoas com a construção local e de certo modo com a sua própria história, muitas vezes num passado próximo. Conduz inevitavelmente à formas de coletar informações de maneira concreta.

Sediar uma atividade com imagens de uma Passo Fundo antiga que expressa modificações, talvez pouco conhecida pela população mais jovem, desperta uma reflexão sobre a influência social, política e econômica que o processo de formação e caracterização dessa cidade tem para a memória e a identidade, possibilitando-nos pensar historicamente.

Assim, as informações atuais podem ser problematizadas por meio de estudos interligados à utilização de documentos históricos como fontes de pesquisa. O Arquivo Histórico Regional de Passo Fundo disponibiliza meios que podem contextualizar algumas ações localizadas no passado. Através de documentos à disposição do interessado, oferece a oportunidade de uma experiência investigativa pela diversidade do acervo disponível. Essas são ações que caracterizam um local que facilita a busca pela informação, no sentido de acesso, não só pela comunidade acadêmica, mas também pelo público em geral.

Quando se fala de história, muitos são os caminhos que nos fazem perceber que ela está presente na vida de qualquer ser humano, já que todos têm uma origem, uma descendência, ou até mesmo um vínculo com algo material ou imaterial, seja este conhecido ou não. E dessa forma, para que cada um entenda de modo mais profundo seu presente, deve-se compreender o processo de construção, sua origem histórica. Locais como o Arquivo Histórico Regional também podem nos proporcionar aproximação com esses caminhos.

José Carlos Miranda Filho
Graduando História – UPF
Fonte: Acervo AHR
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