Ensino de História

23 de dezembro de 2013

O Ensino e o Local de Memória

O Arquivo Histórico Regional (AHR) é, na maior parte do tempo, um local silencioso e tranquilo. Apesar de alguns inevitáveis sons do centro da cidade, dentro o que predomina é um ambiente típico de um local de concentração, com seu cheiro característico, devido aos longos anos de vida dos papéis ali armazenados e uma iluminação propícia para a leitura. Pode-se dizer um local aconchegante para se ler livros, investigar em jornais ou simplesmente organizar um trabalho de pesquisa, geralmente com um pequeno número de pessoas presentes. Porém, em certos dias essa ordem predominante é deturpada e um ambiente que geralmente recebe poucas pessoas é inundado por uma torrente de trinta a quarenta estudantes que estão ali para aproveitarem o local de uma forma diferente. 

Uma sala de aula como geralmente se conhece em Passo Fundo, é formada por um conjunto de carteiras enfileiradas ordenadamente em direção ao professor que trabalha em pé, os estudantes passam grande parte do tempo sentados, modificando seu espaço apenas nos intervalos, nas aulas de Educação Física ou, em alguns casos, de Informática. É nesses locais que os estudantes precisam discutir  os conhecimentos propostos pelo professor em sua forma mais abstrata, já formulada e reformulada várias vezes pelo próprio professor ou pelos livros didáticos. A disciplina de História, apesar de geralmente vinculada a essa organização, tem um potencial bastante interessante de possibilitar uma mudança de ambiente de ensino, que acaba favorecendo uma nova relação com o conhecimento proposto em sala de aula. O AHR proporciona essa nova relação ao abrir as portas para receber os estudantes de escolas da região de Passo Fundo. 

Mas, o que existe de tão interessante no Arquivo Histórico Regional para o conteúdo aprendido em sala de aula? Primeiramente, a própria relação com a organização do acervo. Os arquivos históricos são centros interdisciplinares, onde existe a relação entre a Biologia (controle dos agentes biológicos que podem ser danosos ao acervo e o próprio papel que é feito de material biológico), a Química (necessidade do conhecimento do processo químico existente na degradação e na restauração do papel), a Física (devido ao conhecimento dos efeitos da umidade, da variação de temperatura e da própria forma com que o acervo é acondicionado), a Arquivologia (a própria organização do acervo) e sem esquecer da querida História que atribui sentido a esse local. 

Na visita os estudantes podem ver o uso, e a necessidade do uso, de uma gama de conhecimentos que eles aprendem em sala de aula, mais especificamente, na disciplina de História. Eles podem ter contato com a matéria-prima do conhecimento produzido, e ainda mais, fontes primárias para a história local, pois o acervo possui documentos da cidade e da região. Torna-se, então, um local que possibilita o relacionamento de acontecimentos mais próximos com as questões nacionais, vistas no currículo comum. Ao aproximar-se esse conteúdo do espaço de convívio cotidiano acaba-se por expandir a história da sala de aula e abranger-se muitas vezes outros lugares frequentados pelos estudantes – onde o interesse maior não é, necessariamente, o do aprendizado – possibilitando que a realidade também transforme em estudo da História o que está fora da sala de aula. 

A grande vantagem de se pensar a história em conjunto com a realidade do estudante, é de torná-la cotidiana  e assim mais frequente na memória, possibilitando a compreensão e a relação de mais conteúdos que reconstroem os espaços de convívio. Isso pode passar a ser visto de uma forma mais ampla e mais próxima, ao pensar o local como também parte da história. O Arquivo Histórico Regional, além de ser um local que armazena as fontes históricas, pelo seu conteúdo também é um ambiente de ligação entre o passado e o presente.

Pedro Alcides de Mello
Acadêmico do 4º semestre curso de graduação em História da UPF (bolsista PIBID/UPF)
Fonte: Acervo AHR
* O AHR destaca que os artigos publicados nessa seção expressam única e exclusivamente a opinião de seus autores.