Cruz Vermelha em Passo Fundo, a guerra chegou por aqui? (Final)

No dia 23 dezembro de 1944 o Núcleo da Cruz Vermelha Brasileira Passo Fundo (NCVPF) realizou a festa natalina e a despedida dos expedicionários passofundenses que seguiriam para o front a fim de incorporar-se aos demais brasileiros na Europa. 

Neste dia o Núcleo da CV percorreu toda a cidade, apelando nas ruas e na rádio local, a moradores e comerciantes, a fim de angariar pratos de frios, doces e refrigerantes. Na ata n°13  a secretária descreve: “A diretoria não poupou esforços de dar um ar festivo, já que não podia fazer sorrir nossos soldados e familiares”.

Em meio ao lanche oferecido na sede do Clube Comercial, foi feito um show artístico pelas senhoritas da cidade participantes da Cruz Vermelha, homenageando os expedicionários com declamações, ao som de Fox e canções.

Cada senhorita escolheu um soldado como afilhado, fixando nas lapelas de seus  uniformes cor de oliva, em fitas verdes e amarelas, uma medalha benta de N.S Aparecida com uma prece pedindo que Deus os defendesse nas lutas que iriam enfrentar. Entregaram-lhes pacotes individuais contendo cigarros, enlatados de conserva e roupas quentes. Às cinco e meia  da madrugada do dia 24 partiam da gare da Viação Férrea (hoje desativada) ao som dos clarins, despedindo-se de seus entes queridos, suas madrinhas que ficariam encarregadas de fazer através do NCVPF contato com a Europa.

Os pracinhas - soldados que estavam na linha de frente das batalhas -, eram membros da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Lutaram na Itália e participaram de importantes batalhas como a de Monte Castello no norte da Itália,  travada ao final da Segunda Guerra Mundial entre as tropas aliadas e as forças do Exército alemão.

A saudade da terra, os medos e horrores das trincheiras, eram amenizados pelo conforto em receber noticias da família. Em Passo Fundo a correspondência com  estes soldados era feita através de suas madrinhas aos seus familiares. Trocas de postais e cartas enviando noticias e palavras amigas eram comuns.

Em um destes postais que encontra-se salvaguardado no Arquivo Histórico Regional (AHR), percebe-se a importância do gesto, onde se lê:

Itália – Abril de 1945. A muito acolhedora Cruz Vermelha da cidade de Passo Fundo na distinta pessoa de sua secretária Delma R. Gehm com os meus maiores votos de feliz e continuo progresso, agradecendo de coração, o santinho de conforto que recebi nessa estação, quando de viagem de Porto Alegre, com destino a este teatro de guerra. Braudelino de Vargas Prates 2º Sgt, 400 FEB.

Em agosto de 1945 com a vitória dos Aliados, as tropas retornam com seus sobreviventes a esta cidade e a Cruz Vermelha então auxilia nas buscas junto às autoridades pelos internados que se encontravam ainda  em hospitais nos Estados Unidos.

Passo Fundo não recebeu a guerra aos seus portões, mas o reflexo deste conflito que envolveu continentes pelo mundo, transformou o cotidiano de nossa pequena cidade nos idos da segunda metade da década de 50 através dos trabalhos de entidades como  o Núcleo da Cruz Vermelha local.

Anderson Roman Pires
Acadêmico do 3º  nível do Curso de História UPF
Fonte: Acervo AHR
Imagens: Dejanira Lângaro, Delma Gehm, símbolo Cruz Vermelha.